A quem interessa o vidro de esmalte?

Não sei por que cargas d’água estou a me fazer esta pergunta desde a madrugada. Esta pergunta literalmente brotou e não quer sair da minha mente que vagueia na imagem de um vidro de esmalte vazio na mão da manicure ou na prateleira do pequeno armário do banheiro sobre a pia (daqueles antigos de portinha de espelho). E como já se passaram um par de horas, achei por bem escrever para desocupar a mente destes pensamentos que estão a insistir em respostas inúteis.

Tempos atrás publiquei um pequeno texto sobre os 5R’s (Repense, Reduza, Recuse, Reutilize, Recicle) – práticas simples que norteiam o comportamento humano para preservação do meio ambiente. E já faz algum tempo que tenho tentado aplicar os 5R’s no meu cotidiano, inclusive aplicando aos meus filhos e neta. Práticas simples como recusar a sacola plástica em pequenas compras, usar caixas de papelão para trazer as compras do supermercado, uso das eco bags, separação o lixo seco (papel, plástico, vidro e metal), etc. Pode parecer uma ação isolada que não representa nada ou quase nada diante de uma montanha de lixo que é recolhido diariamente e despejada no aterro sanitário e que representa muitas centenas de anos para decompor. Mas eu estou fazendo a minha parte e dando exemplo aos meus. Devo admitir que esta minha conduta é recente, infelizmente. Admito que até pouco tempo atrás meu pensamento era: separar o lixo para quê, se o caminhão vai recolher tudo junto? Mas fui alertada por uma amiga que há na cidade uma Associação de Catadores de Materiais Recicláveis (ASCAMARE) que recolhe os materiais diariamente pelas ruas da cidade e transforma o lixo em renda! Daí para frente não fui mais a mesma… não consigo jogar no lixo comum uma cartela vazia de Doril, uma tampa de caneta ou um minúsculo papel de bala… simplesmente não consigo!

Diariamente me surpreendo com o descaso das pessoas com seu lixo amarrado em sacolinhas de supermercado que vão se avolumando nas calçadas da cidade todas as manhãs. Me surpreendo com o poder público que nada faz além de recolher este lixo das calçadas para simplesmente se avolumarem no aterro sanitário. Isto sem falar na infame prática de algumas pessoas que ainda insistem em jogar seu lixo no único curso d’água que corta esta cidade (Córrego Feijão Cru).  Onde vai dar isto? A frase “jogar fora” não cabe mais, pois NÃO EXISTE FORA!  Nossa cidade é uma só, nosso planeta é um só! Estamos criando ilhas e montanhas de lixo sem fim pelo mundo… de pouquinho em pouquinho… de cidade em cidade… de calçada em calçada … TODAS AS MANHÃS, TODAS!!!

E o que isto tem a ver com o vidrinho de esmalte? O mesmo que a garrafa long neck (cerveja) e todas as outras não retornáveis, o tubo de pasta de dentes, a bandeja de isopor que embala legumes e frutas, o prestobarba (e similares), a caneta bic (e similares), a esponja verde e amarela da cozinha e outros tantos produtos do nosso dia a dia que nem sempre temos como Recusar, nem Reutilizar, nem Reciclar… enfim, é preciso RETORNAR. Sim, aplicar a política de logística REVERSA para a indústria. Quem mais pode reutilizar o vidrinho de esmalte além da própria indústria que o produziu???

É preciso inserir mais um “R” na lista de práticas sustentáveis para o meio ambiente – RETORNAR para a indústria e esperar que a própria indústria REPENSE sua forma de produzir, talvez haja assim uma revolução no vidrinho de esmalte compostável, na pasta de dente em cápsulas, no pretobarba de bambu… enfim, tenho esperança!

 

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