No último mês de 2024, a convite da Prefeitura de Leopoldina, endossado pela Associação Pró Meio Ambiente Ipês, acompanhei, do vale contornado pelo pontão de gnaisse do querido Morro do Cruzeiro, a Conferência Municipal de Meio Ambiente, etapa integrante da 5ª Conferência Nacional de Meio Ambiente com o tema “Emergência Climática: o desafio da transformação ecológica”, organizada pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA). Foi a oportunidade para regressar à Leopoldina, minha terra natal, e contribuir como conferencista na área em que atuo.
Depois de anos ouvindo conversas sobre clima, lendo documentos como o Relatório Brundtland (Nosso Futuro Comum, de outubro de 1987), que reverberou pelo mundo o conceito de desenvolvimento sustentável e a preocupação com o aquecimento global, refleti com o grupo presente na “Sala Verde” da Secretaria de Meio Ambiente de Leopoldina, sobre as questões da cidade relacionadas a este tema da Emergência Climática.
Claro que o tempo era pouco para discutirmos a respeito de tratativas globais e nacionais sobre o assunto. De 1987 para cá, passamos pelo Primeiro Relatório de Avaliação (1990) do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), pela Agenda 21 (ECO92), pelo Protocolo de Quioto (1997) e pela Política Nacional de Mudança do Clima de 2009. Foram 22 anos até chegarmos em uma política brasileira para o tema e esperamos mais 15 anos para estabelecer a chamada “Emergência Climática”. E são, realmente, muitos assuntos.
Mas o MMA resolveu facilitar o trabalho dos 5570 municípios brasileiros, incluindo Brasília e Fernando de Noronha entre estes. Ele elaborou um documento base e dividiu o tema em 5 eixos, muito bem apresentados na conferência de Leopoldina pela professora Juliana Neves Barbosa, do CEFET-MG: Mitigação, Adaptação e Preparação para Desastres, Justiça Climática, Transformação Ecológica e Governança e Educação Ambiental.
Todos os eixos temáticos versam sobre questões importantes da “Emergência Climática”, como a mitigação dos efeitos do clima, quase sempre relacionada a redução de emissões de gases de efeito estufa, ou a adaptação e preparação para os desastres que estes efeitos podem causar, em geral associados a enchentes e secas. Um lado social é observado no eixo da justiça climática, que aponta um maior impacto dos eventos extremos sobre populações mais pobres, que estariam em condições mais vulneráveis de ocupação dos espaços urbanos ou em comunidades ribeirinhas, por exemplo.
Os dois últimos eixos são, entretanto, os que apelam para uma transformação da atual e futuras gerações que nos conduza a um modus vivendi ecologicamente mais harmonioso, o que depende de uma consciência que ainda não ensinamos na educação formal, nem na não formal, para estas gerações que precisam se transformar se quisermos alcançar uma governança dos sistemas humanos melhor integrada ao ambiente em que vivemos neste planeta de terra, água e ar.
Nosso grupo na conferência acabou destacando muito o eixo da Educação Ambiental quando tentei praticar a metodologia da sala de aula invertida e ouvir “os alunos”. Parece óbvio que todos queremos ensinar sobre a tal transformação ecológica e achei bom que estejamos mais mobilizados para a governança socioambiental. Eu vinha de eventos do mês anterior no Rio de Janeiro relacionados ao encontro do G20 e já vivenciava um intenso debate sobre transição energética, desenvolvimento sustentável justo e reforma das instituições multilaterais.
Mas veio à baila estes dias a quantidade de gases de efeito estufa emitidos nas queimas de fogos no Rio e mundo afora, algumas provocando incêndios (como em Berlim), além dos montes de lixo nas ruas (como em Nova Iorque). Afinal, para qual “emergência” estamos nos preparando?
Eduardo de Araujo Rodrigues – Professor e Analista Ambiental
03/01/2025